quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Lacan e o outro

por Felipe Ribeiro

Existe o um, o outro e a relação. E essa relação tem a peculiaridade de que, ao mesmo tempo que ela é denominada de terceira, isso não significa necessariamente que ela seja autônoma; e majoritariamente ela não vai ser autônoma. Eu vou preferir falar majoritariamente porque é claro que nós vamos ter desdobramentos dessa relação, e às vezes esta relação vai criar novas relações, ela talvez crie até uma autonomia em relação àquela primeira relação que foi gerada. Mas ela nunca vai existir por si só: é da relação estar sempre unindo um par anterior. Ao mesmo tempo, quando ela une este par anterior ela está obviamente modificando este par anterior, então não é que exista o eu, e exista o outro, e exista a relação, e eles não são contamináveis”. No momento em que uma relação se estabelece, necessariamente os dois pólos que geravam essa relaçao têm que se reorganizar e se repensar na relação, e é isso que faz uma relação ser tão interessante.
É o que o Lacan vai construir: “relação é discurso”. Ele tem a frase célebre, talvez seja a frase mais conhecida do Lacan, em que ele diz “o eu é o outro”. A primeira vez que a gente se vê, a gente se vê fantasmagoricamente, porque não é a gente, é um fantasma. E se não for com o auxílio do fantasma, eu nunca posso me ver por inteiro, eu estou sempre vendo pedaços de mim, sempre vendo membros. Quando eu me vejo dissociado de mim, eu consigo me entender como um.
E é por me entender como um que eu entendo que há outras coisas que não eu, e deixo de ter este estado mágico com o mundo. Então ele diz: “é a fantasmagoria que funda o sujeito”. E nesse sentido, a nossa função no mundo, a nossa construção de subjetividade no mundo vai ser constantemente estar procurando o eu refletido em todas as outras coisas e pessoas existentes. Então quando ele diz “o eu é o outro”, ele diz que esse primeiro mecanismo é só um mecanismo que a gente apreende e multiplica ad infinitum.

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