terça-feira, 26 de outubro de 2010

4

No dia 4 de outubro ía pra casa pensando sobre o corpo do espetáculo. Pensando que agora tinha uma vida sendo gerada entre dois e não adiantava mais um, nem três. São dois pra 4. E é isso. Hoje conto os dias para o quarto dia do último mês e espero um outro dia 4 em que algo vai nascer e morrer, talvez no movimento de vida mais efêmero de todos. Escrevo um e-mail chamado reta final e me dou conta de que não estou me dando conta o suficiente e que se deixarmos, o tempo nos passa a perna e não nos deixa ver além de enxergar. É uma sensação extremamente mortífera essa de reconhecer vida. De reconhecer o tempo e o espaço. Talvez por isso tão difícil para uns. Engraçado isso, já que essa sensação não nos é estranha. De forma alguma. Só temos, ainda hoje, dificuldades de lidar com ela. Mas pensando aqui, cá comigo mesma, acredito que agora estamos entrando em um novo momento em que as dificuldades tem novamente todo espaço que for preciso. Há quase um mês (tirando 8 dias, ou duas vezes quatro, ou uma semana e mais um dia)começamos a tentar dar forma a essa vida que está sendo gerada. Agora que estamos de alguma maneira ficando seguros nela precisamos voltar a dificuldade, dessa vez de perceber e reconhecer que a forma também morre quando falamos de vida. E que o momento de atuação talvez seja mesmo o único antídoto para acabar com o medo do abismo. Fica essa memória entre nós, rapidinho pra não incomodar ninguém. Deveríamos dar um pouco mais de sentido aos nossos movimentos. Tratar a forma como uma espécie de vida inventada, dilatada ou comprimida.
Falta vida.
Falta morte.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

o que se vê, o que é visto

"O corpo situado no tempo e no espaço, o "corpo próprio" de cada um, é arrebatado para ser produzido por um complexo dispositivo de arte em que o discurso ganha importância. O corpo não é mais o mesmo: ele é auterado, é sempre outro. As palavras não se acrescentam a essa experiência de alteridade; elas se envolvem, dela fazem parte, para lançar o pensamento mais além; por fim, entre sensação e conceito. O exame das características sensórias da obra a que o corpo se expõe não basta. É preciso reconsiderar a idéia: ganha relevo então a palavra que integra a obra, para de seu interior criar um distanciamento. Dá-se ao discurso, ao texto e mesmo à palavra isolada um lugar na experiência das artes ditas visuais."

Rogério Luz

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

início da semana

Vamos entrar em um momento que nos exige muita concentração, foco. É difícil, eu sei, são muitas informações. Sapatos e mais sapatos, tudo em série. Mas vamos tentar jogar mais com as interferências. Já está aí, uma vida pulsante, sendo gerada. Não sabemos de nada, sabemos de tudo. Temos que pagar pra ver. A vida funciona um pouco assim né!? Sem muita ansiedade. As "meias felpadas" é puro amor. Amor, muito amor, na forma mais natural e sincera possível. Inevitável. As "formas randômicas" é beleza, deslumbramento, toda aquela sublimação de que você tanto fala. Meias felpadas para a Bel! Formas randômicas para o Be!
Vamos entender os materiais, exercitar um olhar analítico, decupar. Repetir, transferir, reconfigurar, reestruturar.
Treinar. Voltarmos sempre a abrir os espaços que foram e são cavados. Permitir os atravessamentos.
Vamos desenhar.
Vamos pintar.
Texto, movimentos, ações, gestos, espaços e tempos.
Pensar nas imagens.
Dançar: a palavra dança também, o espaço, a arquitetura, o corpo. Tudo dança entre nós e vejo meu corpo cada vez mais carregado de vocês.
Gosto disso. Entre nós sei que podemos expor todo essa vida, esse calejamento que se espalha entre partes e fragmentos.
vamos juntar. Ainda é processo.
Meio!

RYAN McGinley - instalações






sobre o olhar de Caio: "o espaço urbano se expande, alargando a sua poética. novas dobras e novos olhares são sugeridos e potencializados. a fotografia que, de alguma forma, fricciona o caminhar de quem apenas ia de um lugar para o outro."

sábado, 2 de outubro de 2010

Código

No principio era a palavra e a palavra era Deus...
No principio de quê exatamente?
Ah! Nao o começo, começo... o principio do nosso diálogo
no principio da historia escrita.
"Deus tem o poder
para fazer
muitas coisas
que nunca fez
e nunca fará"

o Silêncio.

silêncio

"Consideremos o fato de que o dizer é aberto. É só por ilusão que se pensa poder dar a "palavra final". O dizer também não tem começo verificável: o sentido está(sempre) em curso.(...)é que o silêncio é fundante(não há sentido sem silêncio) e esta incompletude é função do fato de que a linguagem é categorização dos sentidos do silêncio, modo de procurar domesticá-los. O silêncio é sentido contínuo, indistinto,horizonte possível da significação. A linguagem, mesmo em sua vocação à unicidade, à discrição, ao completo, não tem como suturar o possível, porque não tem como não trabalhar (com) o silêncio. Isto justamente porque a linguagem é estrutura e acontecimento, tendo assim de existir na relação necessária com a história (e com o equívoco)"

Eni P. Orlandi

Retroceder para o Encontro, ou Desencontro, tanto faz.

Os sons de fundo, o emaranhado, em diferentes frenquências, diferentes canais, diferentes volumes, como diálogos, falas, risos e manifestações de assombro, rituais litúrgicos. Uma massa de sons misturados.

Muitas, muitas, muitas…

Vozes

Eu sentia que algo iria acontecer… eu sabia que de uma hora para outra eu ouviria um barulho muito alto que iria me assustar… não sabia o que era… Qual seria esse som? Sei que será um estrondo e ficarei assustada. Um encontro. Desencontro. Desequilíbrio. A Estática. Estática, como dizem agora… Isso realmente desgasta. Parece, ao menos eh o que dizem, que o silencio, de fato, não existe. Tudo faz barulho… tudo o que se move… e tudo se move.

O jovem julga não conseguir distinguir. Pra mim, tudo não passa de um emaranhado de sons, uma massa. Ouvi dizer que buscam um neutralizado

Eu sei… eu ouvi isso, mas já faz um tempo… Andam dizendo, param dizendo… há pessoas que ate falam dormindo. A jovem.

Toda essa informação. Esse acumulo de conhecimento vazio.

Esse turbilhão de imagens e historias… eu sonho com pessoas que nem conheço. Sonho com pessoas que provavelmente nem existem.

Antes eu sonhava, hoje eu nem durmo.

Acordo com o som de um trovão.

Lembranças eletricas.

Recordacoes eletricas, memoria eletrica, vestígio eletroquimico.

Eu nao quero ser apenas um agente do vírus…

Saber muito na verdade nao eh grande coisa, pois estamos falando de que dizem que vao aprender russo para ler Dostoievsky no original, mas que no fim das contas nao tem persistencia nem para vencer a metado do alfabeto cirilico. Nessa alegria academica provisoria dos cadernos, da palavra.

A Palavra, esse virus assassino, que serviu para converter o macaco em homem com a desvantagem de fazer com que homem siga em estado animal.

Criaturas que realizem feitos incomuns.

Criaturas disformes ou superdotadas.

Cuspidores de fogo.

Funambulos.

Criaturas imunes a dor… Pessoas vestidas com trajes deslumbrantes.

Eh o que dizem…